“Polivitamínicos” – O que considerar quando (e se) tiver que escolher
Primeiramente, o aviso fundamental: não tome “remédios” por conta própria, sem orientação por profissional de saúde competente, sejam eles medicamentos, suplementos ou mesmo chás – até porque muitos, na dependência da dosagem, podem até fazer mal… Muito mal.
A seguir, pontos sobre os quais acho importante que você reflita se mesmo assim resolver “tomar uma vitaminazinha”, na melhor intenção de sentir-se melhor:
1 – Se você tem que abastecer seu carro de passeio mensalmente com quase 200 litros de combustível, adianta tentar colocar tudo de uma só vez no tanque (para não ter que abastecer várias vezes ao longo do mês)? É claro que não, pois a maioria do combustível vai transbordar e perder-se. Da mesma forma acontece com os complexos de vitaminas e minerais comercialmente disponíveis (uma infinidade cujos nomes, pelo menos dos mais comuns e famosos, com certeza você lembra). Excetuando-se comprimidos de liberação gradativa (que, até onde sei, não há disponíveis no Brasil), os demais liberarão uma grande quantidade de vitaminas e minerais de uma só vez no intestino, motivo pelo qual parte disto nem será absorvida; do excesso que ainda for absorvido, também pouco seu organismo tende a realmente aproveitar. O que acontece com o que sobra? Ou acumula-se onde não deveria (podendo gerar intoxicação) ou é eliminado pelos rins. O resultado disto? Ou você tem realmente grandes carências que podem até ser supridas (na dependência da qualidade da fórmula prescrita) ou terá fezes e urina realmente “caras” e “vitaminadas”, já que seu remédio estará quase todo ali.
2 – Se você precisa de uma peça para o seu carro, certamente pode comprá-la original, na concessionária ou “similar”, em diversas lojas. Além do preço, deverá então variar também a qualidade e durabilidade do produto, bem como adequação para as suas necessidades. Novamente, o mesmo ocorre com os complexos de vitaminas e minerais: a qualidade dos compostos pode variar muito, o que afeta sua biodisponibilidade, ou seja, quantidade de cada vitamina e mineral que realmente estará disponível na sua corrente sanguínea após ingerir cada comprimido. Por exemplo, existem várias formas de administrar Ferro em um suplemento (sulfato ferroso, fumarato ferroso, ferro quelato, etc), e elas diferem não só no preço, mas na quantidade do mineral que efetivamente seu organismo receberá após cada dose e mesmo na chance de causarem efeitos indesejados, como irritação intestinal. E acredite: não é incomum encontrar fórmulas que, para ficarem mais baratas, contêm as formas de vitaminas e minerais de pior absorção e/ou mais efeitos colaterais, que geralmente têm menor preço individual.
3 – Uma fórmula repleta de vitaminas e minerais, que pareça bem completa, pode mesmo não ser realmente boa por um motivo muito simples: a quantidade dos ativos que apresenta. Isto porque é muito comum que apareçam na mesma fórmula substâncias em quantidades tão pequenas que se tornam insignificantes para muitos organismos. E se você perguntar “então por que os fabricantes colocam?”, a resposta é simples: para poder divulgar que seu suplemento é “completo” (todas as letras do alfabeto…), “tem de tudo”.
4 – Vitaminas A, D, E e K são lipossolúveis, ou seja, são melhor absorvidas junto aos alimentos, mais especificamente, junto às gorduras destes. As vitaminas B e C, bem como os minerais, são melhor absorvidos em água, longe das refeições. Portanto, quando você administra tudo junto, a absorção de alguns dos componentes será melhor e a de outros, pior. Seria, então, não seria melhor administrá-los separadamente?
5 – Para efeito de absorção no intestino, o ferro compete com zinco, o cálcio compete com magnésio, o ácido fólico com zinco e a vitamina C com cálcio. Se estes são apenas exemplos de interferências negativas entre substâncias quando administradas juntas, imagine a quantidade de interações possíveis que mega complexos de vitaminas e minerais podem proporcionar. Para quem se automedica, sem acompanhamento por profissional competente para indicar, orientar e responsabilizar-se, isso pode ser problemático.
Enfim, o melhor mesmo é receber nutrientes de uma alimentação balanceada e bem orientada, associada aos demais hábitos saudáveis de vida. Mas quando isso não é possível, a suplementação deve ser individualizada, com um profissional de saúde bem capacitado indicando o que for necessário para cada caso, evitando tanto a insuficiência quanto as intoxicações. No entanto, se ainda assim você preferir algum “polivitamínico e polimineral” por conta própria, considerando o que foi explicado neste texto, depois não diga que não foi avisado.
Boa reflexão
Um abraço e SAÚDE!
Ícaro Alves Alcântara