Já falei anteriormente sobre cada um deles, mesmo que “de leve”, mas achei por bem aprofundarmo-nos um pouco… Até porque em consultório têm sido raros os pacientes que não têm dúvidas ou conceitos inadequados sobre pelo menos um destes assuntos (a maioria, sobre todos). E que fique claro: o objetivo do artigo é esclarecimento e NÃO substituir uma consulta por médico capacitado!
MITO: “O tratamento do hipotireoidismo é sobretudo via reposição de T4 sintético da tireoide Levotiroxina, disponível comercialmente em 4 formas (Levoid, Synthroid, Euthyrox e Puran T4).”
Vamos por partes…
- A tireoide de alguém com Hábitos de Vida ruins NUNCA vai funcionar normalmente, tendendo mais comumente ao hipotireoidismo (mesmo que tardio) porque, como já disse anteriormente: hábitos de vida ruins deixam faltar nutrientes para o cérebro que, reflexamente, comanda redução do metabolismo (em boa parte por “frear” a tireoide). Ou seja: o primeiro e mais importante passo para tratar qualquer distúrbio, inclusive de tireoide, é melhorar seu estilo de vida habitual (mais nas seções de Metabolismo e de Hábitos Saudáveis em icaro.med.br/12habitos).
- Definição de hipotireoidismo, de acordo com a Wikipédia: “Hipotireoidismo é a deficiência dos hormônios produzidos pela glândula tireoide: a tri-iodotironina (T3) e a tiroxina (T4). Essa condição provoca fadiga, sonolência, lentidão muscular, aumento do peso corporal, diminuição da frequência cardíaca e mixedema, o desenvolvimento de aspecto edematoso em todo o corpo.” Aqui já vem o primeiro questionamento, no mínimo curioso: se o problema é a deficiência de T4 E T3, por que só o T4 é vendido “comercialmente”?
- A tireoide precisa de iodo para fabricar seus hormônios, ou não haverá T4 ou T3. A maior parte da humanidade tem carência de iodo (ou você acha que o sal seria iodado por que? Mas não há uma guerra declarada ao sal? Bem… A reposição de iodo assim “vai no mesmo barco”…); portanto, é mais do que razoável, antes de ir para a reposição hormonal (ou junto a ela), cogitar seriamente repor o iodo no organismo a ser tratado.
- Muitas são as substâncias que ajudam a expulsar o iodo do organismo, como flúor (abundante na água e cremes dentais), cloro (presente na água sanitária, piscinas e mesmo algumas bebidas, entre vários outros lugares) e bromo (muito usado pela indústria da panificação). Quanto mais destas substâncias no organismo, mais iodo é “expulso”; some-se a isso que até exercício físico faz perdermos MUITO iodo, via suor.
- A tireoide produz principalmente o T4 que, perifericamente, será convertido pelos tecidos-alvo em T3, e este sim é um hormônio 4 a 7 vezes mais “forte” que o T4 e, por isso, é o T3 o realmente ativo. Entretanto, ocorre que a maioria das pessoas ou não converte T4 em T3 adequadamente (seja este T4 sintético ou o seu mesmo, natural – Harvard identificou isto em estudo, há alguns anos) ou converte muito do hormônio sintético que toma em T3 reverso, hormônio ainda sem função conhecida no organismo humano e, portanto, considerado “improdutivo”.
- A conversão periférica do T4 em T3 é reduzida por vários fatores, como a carência de selênio, níveis muito altos de insulina ou cortisol (hormônio de estresse), muito baixos de testosterona e problemas hepáticos.
- Um hormônio bioidêntico é molecularmente idêntico ao produzido pelo seu organismo, o que ocorre com o T4 realmente bioidêntico, a “levotiroxina base”. No entanto, os tratamentos comumente prescritos são feitos basicamente via Euthyrox, Synthroid, Levoid ou Puran T4, que contêm “levotiroxina sódica”… ou seja, este T4 sódico não é a mesma coisa que o T4 base! E qual é a consequência disso? Simples: uma substância diferente, mesmo que minimamente, terá encaixe diferente no receptor e isso pode trazer efeitos menores, anômalos e até por vezes “indesejáveis”. Entretanto, como a função básica do T4 é “virar T3” (postula-se que o T4 em si não tenha função biológica reconhecida, fora esta: virar T3), alguns farmacêuticos me dizem que dentro do organismo o sódio sai e a levotiroxina sódica “vira” bioidêntica. E que todos os T4 bioidênticos no mercado vêm “sódicos” para que a molécula seja mais “estável” – só para esclarecer.
- Se o T3 é o “hormônio mais importante”, no final das contas, quando o assunto é “hormônios tireoidianos”, por que é pouco ou mal falado por vários médicos? Entenda aqui!
- Claro que tudo isso é apenas a minha opinião sobre o assunto, embora, como sempre, seja embasada não só tecnicamente em muito estudo constante, mas também em experiência de consultório. Mas pergunte, leia, pesquise, estude, discuta e forme o seu próprio conceito. Afinal, se juízo crítico é sempre importante, imagine quando é a sua saúde que está “em jogo”…